Em entrevista, reitora do IFC fala sobre desafios do novo período de gestão

Ao ser reconduzida ao cargo de reitora do Instituto Federal Catarinense (IFC), Sônia Regina Fernandes, fez um balanço de sua gestão anterior e também pontuou os desafios a serem enfrentados neste novo período. Confira abaixo a entrevista completa.

1) Qual foi o motivo que a levou a concorrer novamente ao cargo de reitora do IFC?

As razões passam pela necessidade, identificada por mim e outros membros da gestão e da comunidade acadêmica, de se consolidar o planejamento institucional e alguns processos, estratégias e ações implantados pela gestão nos últimos quatro anos bem como garantir a continuidade de uma concepção de Educação como bem público, laica, gratuita e de qualidade socialmente referenciada. As pessoas que me apoiaram na busca por uma possível recondução entenderam, como eu, que seria necessário um pouco mais de tempo para atingir esses objetivos.


2) Quais foram os principais êxitos da sua primeira gestão? E quais serão os principais desafios para o novo período?

Podemos destacar o avanço nos processos de institucionalização em todas as pró-reitorias. Na Proad, por exemplo, temos as compras institucionais e o trato do orçamento com uma visão institucional. No âmbito da Proen, Propi e Proex, os trabalhos articulando Ensino, Pesquisa e Extensão, a reformulação de cursos e a própria constituição das diretrizes de ensino médio integrado, feita por um trabalho bastante democrático e participativo, com representação dos segmentos e o devido tempo para pensar essas dimensões.

Tivemos ainda o avanço nos índices de matrícula e aprovação, bem como diminuição nos números de retenção. Houve melhorias na visibilidade institucional; assumimos representações importantes no âmbito externo – principalmente no Conif, representando a Rede em espaços como o Conselho Nacional de Educação e a Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior (Seres).

Outra grande conquista nestes quatro anos – e que precisa ser consolidada – foi o fortalecimento da ideia de pertencimento a uma única instituição, de que somos todos IFC. Em função da própria origem do Instituto, por um tempo, ainda se achava que cada campus era uma entidade separada; com o tempo, conseguimos desenvolver uma identidade institucional.

Daqui em diante, nosso principal desafio, com certeza, passa pela permanência e êxito dos nossos estudantes. Garantir que os alunos que chegam ao IFC se apropriem do conhecimento historicamente produzido no campo profissional que escolheram, concluam essa trajetória formativa num tempo razoável e consigam se inserir com sucesso no mundo do trabalho ou na continuidade de suas carreiras acadêmicas.

Temos também o desafio orçamentário: a manutenção da viabilidade da Instituição diante dos cortes, da Emenda Constitucional 95 e das reformas conduzidas no cenário nacional.

3) Um dos pontos focais de sua primeira gestão foi a ênfase em planejamento estratégico. Quais você acha que foram os principais resultados obtidos, e quais são os itens mais importantes incluídos no planejamento para o próximo período?

Na verdade, a ênfase foi no planejamento institucional; o planejamento estratégico é parte desse esforço. É uma maneira, na minha concepção, de profissionalizar os nossos processos; de os gestores entenderem que não se faz gestão sem planejamento, princípios e objetivos; sem metas a atingir. Assim sendo, o planejamento se constitui em uma ferramenta de gestão fundamental – e que, por sua própria definição, tem que ser acompanhado e avaliado porque, a partir daí, conseguimos compreender o que atingimos ou não e que precisa ser melhorado ou modificado.

Os resultados do planejamento estratégico do primeiro quadriênio se colocam em várias questões, como o êxito orçamentário, a formação continuada dos nossos quadros de servidores, melhorias no índices de matrículas e no desempenho de nossos estudantes em avaliações externas como o Enade e o Pisa, entre outras enfim, no conjunto das nossas missão e visão institucionais. Me parece que a conseguimos avançar bastante nesse sentido – principalmente no que se refere a estabelecer o IFC com uma referência nacional. E acredito que o trabalho coletivo e o compromisso que o Codir anterior tinha em relação a isso foi essencial para que obtivéssemos êxito nessas dimensões.

Como eu mencionei anteriormente, todo planejamento precisa de acompanhamento, monitoramento e avaliação; sua retroalimentação. Portanto, ele tem validade, e os itens que porventura precisem ser atualizados serão tratados nos respectivos espaços colegiados – Codir, Consuper, Consepe – e incluídos se for necessário.

Na minha compreensão, o maior desafio do Planejamento Institucional se refere à nova equipe gestora, já que tivemos uma renovação de praticamente 100% de nossos diretores-gerais de campus e também de parte significativa das pró-reitorias e suas respectivas equipes. É imprescindível fazer com que esses novos atores se apropriem do planejamento, de sua relação com as políticas nacionais e possíveis ações internacionais, pra que a gente possa dar conta dessa tarefa.

4) O IFC obteve, durante o último quadriênio, diversas conquistas obtidas a partir de recursos extraorçamentários. Quais seriam as principais destas conquistas? E essa busca por recursos extraorçamentários continua nesta nova fase?

Tivemos, no último quadriênio, redução do orçamento previsto pela Lei Orçamentária Anual. Então, fomos buscar recursos fora do orçamento, o que permitiu que conseguíssemos terminar obras em andamento da gestão anterior – ou, em alguns casos, paradas. Conseguimos dar conta de novos laboratórios, equipamentos e maquinário.

Conseguimos, no total, um montante em torno de R$18 milhões, tanto junto à Setec, por meio de Termos de Execução Descentralizada (TED) quanto por emendas parlamentares. Fizemos um movimento já em 2019, junto à bancada catarinense na Câmara Federal, para conseguir emendas individuais e de bancada. A empreitada rendeu resultados satisfatórios; teremos uma emenda de bancada para rubrica de custeio – o que vai nos ajudar a viabilizar reformas e melhorias estruturais em alguns espaços e também a aquisição de materiais revitalizar outras estruturas. Houve ainda a busca incessante de nossos professores – principalmente os doutores – para viabilizar processos por meio de editais da Capes, do CNPq e outras agências e fomento.

A continuidade da busca por recursos extraorçamentários se faz cada vez mais necessária, uma vez que não se tem certeza, no âmbito da Setec, sobre o montante que cada Instituto terá – principalmente para fazer investimentosou sobre quais os critérios da secretaria e do MEC nesse sentido. Então, os esforços continuam; já estamos novamente nos articulando para buscar recursos junto à bancada catarinense, à Setec e outras instâncias, para atender da melhor forma possível os investimentos previstos em nosso planejamento institucional.

5) Sua atuação como reitora foi incisiva na defesa da Educação Pública. Nesse sentido, quais são os desafios a serem enfrentados nessa nova gestão?

A defesa da Educação Pública é um princípio constitucional – e também político e pedagógico, na minha compreensão – do qual não se é possível abrir mão. Continuaremos defendendo a Educação pública, gratuita e laica como dever do estado e direito de todos, por meio do acesso, da permanência e do êxito de nossos estudantes, da qualificação dos nossos servidores e da bsuca incessante de recursos nos espaçoes que transcendem nossa instituição, dando visibilidade ao IFC e à rede, Assim, mostramos o quanto a Educação blica interiorizada (como é o caso dos Institutos, que ocupa espaços onde não havia a presença da Educação Federal, seja no ensino médio integrado, seja no ensino superior e pós-graduação) faz diferença e ajuda no desenvolvimento do país, ampliando o acesso ao ensino de qualidade para a população eu ficava à margem dese direito. Essa bandeira continua, e eu tento, sempre que possível, que essa é a função da Educação Pública. Os brasileiros e brasileiras pagam muitos impostos e a população menos privilegiada, responsável por parte importante dessa contribuição, acaba não tendo acesso a esses direitos. Na condição de gestora pública, eu devo zelar por esse direito e buscar a melhor forma de fazê-lo. Então, a defesa da educação pública será inconteste, bem como o trabalho pela ampliação destas possibilidades.

E, para finalizar, gostaria de ressaltar o quanto agradeço à comunidade do IFC por ter sido reconduzida com o voto da maioria dos três segmentos – estudantes, técnicos e professores. É uma alegria, um reconhecimento do trabalho desenvolvido. Ao mesmo tempo, aumenta responsabilidade, enquanto gestora, de se desenvolver um trabalho responsável e comprometido com a educação pública.

Entrevista: Cecom/Reitoria/Thomás Müller
Foto: Luís Fortes/MEC