Após 107 minutos, terminava a projeção do documentário “Anauê! – O Integralismo e o Nazismo na Região de Blumenau”, exibido pelo Campus Blumenau, na noite de terça-feira (26/06). A salva de palmas, os elogios e as reflexões, por parte do público, demonstraram à equipe do filme a aceitação da obra.
Anauê! foi lançado nacionalmente na abertura do Florianópolis Audiovisual Mercosul (FAM), em junho de 2017. O documentário aborda os tempos do Integralismo e Nazismo na cidade de Blumenau. Esta é a quarta vez que o filme é apresentado na cidade. O cineasta Zeca Pires e a produtora Maria Emília de Azevedo acompanharam a exibição e, ao final, ficaram para um bate-papo com o público, formado quase todo por estudantes e professores.
A narrativa intercala imagens e filmes de arquivo com depoimentos de moradores da região, historiadores, sociólogos e filósofos. Para produzir o documentário, Zeca fez extensa pesquisa nas cidades dos vales do Itajaí-Açu e do Itapocu, na qual resgatou depoimentos e mapeou acervos em foto, vídeo e áudio.
O filme retrata uma Blumenau de 1932, período em que escritor e jornalista Plínio Salgado deu início ao movimento político denominado Integralismo, que defendia valores da prática cristã e da família, pregava o nacionalismo e o princípio da autoridade e via o comunismo como inimigo. Contudo, diferente do nazismo, não impunha o racismo e a supremacia de uma raça sobre outra. Em 1935, Blumenau sediou um congresso integralista, que atraiu militantes e adeptos de todo o Brasil. A expressão “anauê”, que dá nome ao filme, era a saudação usada pelos integralistas.
Zeca Pires é diretor de 11 filmes, que incluem documentários, curtas e longas-metragens. Ele começou a planejar Anauê! na década de 1990. “Claro que não fiquei só centrado nele. O projeto fluiu mesmo com a verba (de R$ 120 mil) do prêmio Edital Cinema da Fundação Catarinense de Cultura”, lembra.
Sobre a aceitação do público, o cineasta vê um retorno positivo. “São inúmeras as solicitações de projeção. O documentário tem conexão com o momento atual no Brasil, pelo racismo, pela intolerância, e, com o filme, queremos estimular a discussão sobre a importância do diálogo”, observa. “No segundo semestre, esperamos disponibilizar a película para o acervo de algumas instituições, como IFC, FURB, UFSC”, adianta.
A Comissão de Cultura do campus foi a responsável pelo evento. Para a coordenadora da comissão, a professora de História Sara Nunes, em tempos de intolerância e violência, a exibição de Anauê é ação fundamental para trazer ao espaço público o exercício da memória coletiva sobre processos históricos violentos que marcam a história no Brasil. “Lembrar é um ato político, uma forma de não repetir os mesmos erros”, acredita ela.
Texto/Fotos: Cecom/Blumenau / Gisele Silveira
Fotos documentais: divulgação do filme