Entender o Brasil por meio da desigualdade no acesso ao ensino e analisar o papel dos movimentos sociais e dos cursinhos preparatórios populares nesse contexto é o objetivo do livro “Cursinhos Alternativos e Populares: Geografia das Lutas”, lançado pelo diretor de Pós-Graduação e professor de Geografia do IFC, Cloves Alexandre Castro, no final de abril. A obra, publicada pela Editora Appris, teve como ponto de partida a tese de doutorado em Geografia defendida pelo autor no Instituto de Geociências da Unicamp, em 2011.
De acordo com o professor, o assunto do livro é indissociável da realidade brasileira e à estrutura a qual essa realidade está assentada e se reproduz. “Ou seja, uma estrutura cuja origem é escravocrata e colonial e que, ao se reproduzir, reproduz as determinantes históricas das desigualdades que permanecem no país, seja no que se refere a produzida pela relação desigual capital-trabalho, seja a desigualdade no que se refere à possibilidade de uso das estruturas públicas, como por exemplo, o acesso à educação. No caso específico do livro, trata-se do acesso à universidade pública no Brasil”
Castro conta que o livro prossegue explicando como essa realidade se reflete na questão dos mecanismos de entrada nas instituições – sobre o papel dos cursinhos alternativos para mudar este quadro. “Partindo da realidade concreta de que o exame vestibular se comporta como uma “cerca” que impede os que concluíram o ensino médio de continuar suas formações em universidades públicas e alimenta uma estrutura privada que prepara os mais abastados para esse exame (realidade muito mais dura há 20 anos, quando não havia o ENEM por exemplo), surgem, no bojo do processo de democratização brasileira, nos idos dos anos de 1980, experiências de Cursinhos Alternativos aos da esfera privada de preparação para o exame vestibular. Primeiro, em universidades públicas, por meio da ação do movimento estudantil; depois, nas periferias dos grandes e médios centros urbanos por meio da ressignificação da experiência dos cursinhos nas universidades, por meio de atores das periferias que viveram tais experiências e as reproduziram nos seus espaços cotidianos”.
A obra retrata ainda a expansão recente do ensino superior público e a criação dos Institutos Federais como uma expressão concreta do movimento organizado da sociedade brasileira – do qual os cursinhos alternativos e populares são uma parte integrante – por uma melhora nesse quadro. No entanto, pontua que as necessidades de um país com as dimensões do Brasil ainda não foram alcançadas. ” Não há saída para uma nação que se pretende desenvolvida sem difundir pelo seu território instituições públicas de ensino e pesquisa com acesso justo e democrático”, afirma Castro.
Texto: Cecom/Reitoria/Thomás Müller