Mandar e receber e-mails, digitar textos e fazer planilhas parecem ações simples para quem ou nasceu inserido nas novas tecnologias ou tem facilidade com elas. Mas para Elésia Schefer Constante, 37 anos, são um desafio. Depois de oito anos trabalhando como talhadeira em uma fábrica de tecidos, ela foi promovida a encarregada. Motivo para comemoração, não fosse o fato de ela não saber usar o computador e da necessidade de muitas das funções do novo cargo passar pelo sistema digitalizado.
Elésia é uma dos 27 participantes do projeto de extensão Informática Básica com internet e o uso das Mídias para adultos e idosos, promovido pelo Instituto Federal Catarinense (IFC) Campus Blumenau. Além das noções básicas, os alunos, que têm entre 24 e 82 anos, aprendem a utilizar redes sociais e a acessar outras ferramentas, como Word e Excel.
Afastada do trabalho por causa de um acidente de trânsito, Elésia aproveita para se capacitar. “Este projeto está sendo importante para minha vida, não só pelo conhecimento adquirido, mas recuperar a minha autoestima. Agora, posso dizer que sei fazer. Porque ver todo mundo sabendo usar, menos você, é excludente. Eu me sentia mal dentro da empresa, sabendo que aquele serviço dependia de mim e que eu dependia de outra pessoa para acessar o computador, era muito frustrante”, relata.
Segundo dados de uma pesquisa feita com o grupo no início do projeto – que na época contava com 33 participantes – cerca de 61% afirmaram conhecer, mas não usar o computador. Quanto à ferramenta de editor de texto, cerca de 64% alegaram que não conheciam. Já na pesquisa com mídias sociais, chamou a atenção o acesso ao YouTube, cerca de 70% alegaram conhecer e acessar a maior plataforma de vídeos do mundo.
Com 82 anos, dona Dulcemar Telles Pereira Gomes é fã de canais do YouTube. “Gosto de assistir meus cantores favoritos. Também já usei para procurar como fazer crochê”. Ela também faz pesquisas no Google e usa o e-mail para conversar com os filhos. Ela conta que comprou um notebook e resolveu que era hora de voltar a acessar a internet. “Eu tinha um computador, mas há dois anos ele parou de funcionar, então, fiquei sem usar o equipamento todo este tempo. Decidi que hora de voltar, mas já não sabia mais como mexer, anda mais porque é uma tecnologia diferente da que eu estava acostumada”, diz ela, que antes tinha um computador de mesa.
Projeto é coordenado por pedagoga e psicóloga – O projeto é coordenado pela pedagoga Rosângela Amorim e pela psicóloga Mariélli Oliveira. Para Rosângela, os relatos mostram que medo, insegurança, sentimento de incapacidade e dependência de outras pessoas para desenvolver atividades aparentemente simples foram alguns dos motivos que os instigaram a procurar um curso na área tecnológica. “A partir da oferta do curso, eles perceberam a oportunidade de romper com o desconhecimento e com as dificuldades na utilização de recursos tecnológicos, e viram um caminho de superação em seus receios relacionados ao mundo digital. Eles buscam conhecimento das tecnologias digitais, inclusão digital e também autonomia para fazerem as tarefas sem necessidade de ajuda de outros”, avalia ela.
O curso iniciou em março e tem previsão de término em outubro. O grupo se reúne todas as terças e quintas-feiras à tarde, em um dos Laboratórios de Informática do campus. O projeto de extensão conta ainda com a parceria de 18 servidores – entre técnicos administrativos e professores – e um bolsista.
Texto e Imagem: Cecom/Blumenau/Gisele Silveira