Seminário da Educação Profissional Técnica Integrada discute caminhos do Ensino Médio Integrado no IFC

A cidade de Sombrio foi a sede, nos últimos dias 24 e 25, do V Seminário da Educação Profissional Técnica Integrada ao Ensino Médio do Instituto Federal Catarinense (IFC). O evento foi um espaço de formação e avaliação das Diretrizes da Educação Profissional e Técnica Integrada ao Ensino Médio, e também da proposta pedagógica dos cursos técnicos integrados. O evento consiste em um espaço de formação e avaliação das Diretrizes da Educação Profissional e Técnica Integrada ao Ensino Médio, e também da proposta pedagógica dos cursos técnicos integrados.

A programação foi dividida em dois dias. O seminário teve início oficialmente no dia 24, às 13h, com o processo de credenciamento dos participantes. A solenidade de abertura começou às 13h30, com a participação do diretores do Campus Avançado Sombrio, Lucas Barchinski, e do Campus Santa Rosa do Sul, Jorge Luis Mota; os diretores de Ensino, Pesquisa e Extensão dos campi, Vitor Martin Souza e Cristiano Kochman (respectivamente); com o professor Cladecir Schenkel, representando a reitora Sônia Regina Fernandes; a diretora de Desenvolvimento Institucional do IFC, Bárbarah Sorgetz, representando a Pró-Reitoria de Desenvolvimento Institucional (Prodin); a diretora de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação do IFC, Marilane Paim, representando a Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação (Propi); a pró-reitora de Ensino, Josefa Surek, e o pró-reitor de Extensão, Fernando Taques.

Em suas falas, além de dar as boas vindas aos participantes do Seminário, os componentes da mesa ressaltaram a importância do evento enquanto espaço de reflexão e acompanhamento sobre as diretrizes de Ensino Médio Integrado do IFC. “Que cada momento que tenhamos aqui, ao longo destes dois dias, tenha este objeto como foco: o que podemos fazer para melhorar a nossa instituição, sabendo que isso é um processo contínuo”, ressaltou a pró-reitora Josefa Surek. 

Após o encerramento da solenidade de abertura e um momento musical organizado pelos estudantes Daniel, Larissa e João Davi, o evento teve continuidade com a palestra “Interfaces de Permanência e Êxito com a Organização Escolar e o Currículo”, ministrada pela psicóloga e coordenadora pedagógica da Escola da Serra em Belo Horizonte, Luciana Ferreira Tavares Ramos, e pelo pró-reitor de Ensino do IFNMG e coordenador do FDE/Conif, Ricardo Cardoso, com moderação da professora Josefa.

Em sua fala, Luciana apresentou suas experiências na coordenação da Escola da Serra em Belo Horizonte — uma instituição construtivista que organiza o espaço e o tempo dos estudos de forma diferenciada; o currículo é organizado em ciclos, e ministrado em grande salões de aprendizagem, com turmas de diferentes séries dividindo o mesmo local.

Luciana apontou o autoconhecimento e o sentimento de pertencimento dos professores como fatores importantes no estímulo dos estudantes e sua consequente permanência, bem como a compreensão dos docentes sobre os diferentes paradigmas a respeito da adolescência. “Para se trabalhar com adolescentes, é importante conhecer e pesquisar sobre a adolescência. É preciso aprofundar o senso comum sobre essa fase da vida; desconstruir alguns conceitos”. 

A palestrante citou como exemplo a ideia de que adolescentes são “problemáticos” apenas porque estão passando por mudanças hormonais; segundo ela, a questão é muito mais profunda, e pode ser abordada à luz de diferentes áreas do conhecimento. “Pela ótica das Neurociências, por exemplo, sabemos que o cérebro do adolescente ainda está em formação, e tem duas questões que são fundamentais para explicar este comportamento intempestivo: a imaturidade do sistema límbico, ligado ao controle das emoções, e do sistema do córtex pré-frontal, relacionado à tomada de decisões e à impulsividade. A Psicologia já aponta essa fase da vida como um retorno de questões não resolvidas e um momento de crise de identidade; pela teoria cognitiva, Piaget aponta a adolescência como uma fase de pensamento crítico e busca da lógica. Então, quando começamos a pesquisar sobre o assunto, conseguimos compreender o funcionamento daquele sujeito para além daquilo que o senso comum fala”.

Luciana apontou ainda que a geração atual de adolescentes é formada por indivíduos com grande vulnerabilidade emocional e dificuldade de criar vínculos – fenômeno que foi agravado pela pandemia. “Nesse contexto, eles voltam a se vincular com o mundo por meio da escola. E, no trabalho clínico, percebo que os jovens apresentam muita dificuldade em lidar com essa realidade. Cabe a nós, como educadores, repensar a nossa prática de forma a trazer esses adolescentes para a vida, para o estudo, para a compreensão desses desafios”, diz.

Em seguida, foi a vez da fala do pró-reitor de Ensino do IFNMG e coordenador do FDE/Conif, Ricardo Cardoso. No início de sua conferência, Ricardo aponta que o Ensino Médio Integrado consta na lei de criação dos Institutos como oferta prioritária – 50% deve ser nesta modalidade – porque esta oferta é a mais transformadora. “A discussão acerca do ensino médio integrado é o cerne do debate acerca da identidade do que são os Institutos Federais, da Rede como um todo, e do papel que ela desempenha”.

Ricardo apontou a própria apresentação cultural realizada pelos estudantes na abertura do evento como um exemplo de estratégia de permanência. “A essência de nossa pluricurricularidade está calcada na perspectiva de uma formação humana integral. Um momento cultural, um momento de música, já representa uma boa resposta às nossas questões. Não estamos falando de vínculo? Como é que se desenvolve este vínculo? A partir de políticas culturais, esportivas!” Para o professor, especialmente em um país desigual como o nosso, de racismo estrutural, precisamos entender que a formação integral do ser humano transcende as matérias ministradas em sala de aula.

O professor citou ainda a diferença em trabalhar “políticas de combate a evasão” e “políticas de permanência”. Citando o sociólogo francês Bernard Charlot, Cardoso falou sobre como a questão a noção de “fracasso escolar” é associada não só fatores como desigualdade social e ineficácia pedagógica, mas a razões imputáveis ao próprio aluno — suas deficiências, lacunas e carências. Ele destaca que, nesse contexto, é importante examinar não apenas os fatores que causam a saída do aluno mas, principalmente, observar os motivos pelos quais eles persistem no estudo, e a partir daí desenvolver as estratégias de sucesso escolar.

Em sua apresentação, Cardoso apontou quatro pontos-chave para um novo paradigma de enfrentamento da evasão escolar:

1) Separar “Permanência de “êxito” – Se “permanência” e “êxito” são uma coisa só, e êxito é a experiência escolar bem sucedida (nota e diploma), o que sobra é o fracasso escolar, como expressão da reprovação, não aquisição de conhecimentos e abandono. A permanência deve ser avaliada de forma contínua, e para todos;

2) Ultrapassar o combate à evasão e seu foco em grupos e pontos específicos – É preciso superar a “denúncia” da evasão escolar e adotar enfoque positivo e propositivo de reconhecimento e fortalecimento das concepções e ações que se orientam à dimensão social da qualidade na educação

3) Qualificar os planos de permanência – Superar planos que se constituem em metas de taxas de evasão, cujo atendimento se baseia em ações tradicionais de assistência estudantil, nivelamento e reforço escolar.

4) Qualificar a aferição da taxa de evasão – separar e analisar devidamente dados de mobilidade de cursos, “matrículas fantasma” e evasão de curso e da instituição.

As apresentações dos dois convidados podem ser assistidas na íntegra no canal do Campus Sombrio no YouTube

Na sequência, após um intervalo, as coordenações dos cursos se reuniram para avaliar os avanços e desafios da oferta dos cursos técnicos integrados do IFC — atividade que foi realizada nas dependências do Campus Sombrio. 

Segundo dia: debates e encerramento. 

A programação do Seminário teve continuidade na manhã do dia 25, com a conferência “Cenário da Educação Profissional e Tecnológica na Rede Federal”, com participação do pró-reitor de Ensino do IFSC, Adriano Laurentes da Silva, e da pró-reitora de Ensino do IFC, Josefa Surek.

Após dar as boas vindas aos participantes, Josefa abriu os trabalhos explicando sobre qual seria a pauta do dia. “O objetivo será discutir como está, em termos de Rede Federal, a discussão em torno dos cursos Técnicos Integrados, assim como trazer um pouco da experiência do desenvolvimento dessas discussões no nosso instituto irmão no estado, o IFSC”, disse. Ela citou ainda o posicionamento da Rede Federal em defesa do Ensino Mèdio Integrado, “não só para a Rede, mas para a educação pública no Brasil entendendo a modalidade como um espaço de formação integral, que não limita as escolhas de nossos estudantes e que possibilita que tenham acesso ao mundo do trabalho e, ao mesmo tempo, tenham as condições necessárias para fazer suas escolhas futuras”. Em seguida, ela deu um pequeno histórico sobre a construção das diretrizes de Ensino Médio Integrado tanto na Rede como um todo, quanto dentro do próprio IFC e nas demais instituições. A pró-reitora falou ainda sobre o parecer da Rede — e também do próprio IFC — sobre a reforma do Ensino Médio proposta pelo Governo Federal e como o ensino dos Institutos Federais não só contempla como vai além das premissas dessa legislação e, portanto, não está incluído nos parâmetros da reforma.

 A professora falou ainda sobre o diálogo e as parcerias do IFC com a Secretaria Estadual de Educação e, como nesse sentido, é importante saber como estão as discussões nesse sentido no IFSC. “Para que a gente perceba que não somos uma ilha; não estamos isolados nesta discussão”, finalizou, apresentando e passando a palavra para o professor Adriano Laurentes. 

Em sua fala, o pró-reitor de Ensino do IFSC deu um relato detalhado sobre como estão as discussões em sua instituição, ressaltando que o aprofundamento do diálogo com o IFC nesse sentido foi uma de suas primeiras ações enquanto gestor. “Buscar, justamente, entender o que tem sido feito no IFC e como podemos, juntos, nos fortalecer enquanto Rede Federal em Santa Catarina”, disse. 

Segundo Laurentes, o IFSC ainda não tem diretrizes próprias sobre o Ensino Médio Integrado — cujo fortalecimento era uma das bandeiras levantadas pela equipe gestora junto à comunidade. “Para isso, entendemos que é preciso ter a experiência do IFC como referência; todo o debate realizado e a produção sistematizada que vocês têm”.  

Laurentes ressaltou que “Ensino Médio Integrado” não é uma forma de oferta, e sim uma concepção de educação, que tem uma base conceitual definida e consiste em um modelo que orienta as ações para o Ensino Médio. “o desafio de construção de uma política pública passa por ter uma condição clara por onde seguir, e construir o que trará condições para realizar essa perspectiva. E isso não passa apenas pela reitoria, mas também pelos campi e suas práticas diárias. É o educador, em sala de aula, que vai materializar o que está sendo pensado; então, cabe às gestões pensar nas condições que vão estimular o que se quer como perspectiva”, afirmou. 

O pró-reitor de Ensino do IFSC falou ainda sobre o trabalho de criação de departamentos de EJA e Ensino Médio Integrado em sua instituição; a articulação de atividades culturais e artísticas como parte de uma concepção ampla de Ensino Médio Integrado; a fortificação do diálogo com os campi e as discussões sobre carga horária e o próprio conceito de Ensino Médio Integrado; e parcerias com a Rede Estadual, entre outros assuntos.

Após uma sessão de perguntas e respostas com os palestrantes, foi a vez da apresentação dos pontos discutidos pelos cursos durante o dia anterior. Pontos constantes nas discussões foram os procedimentos e estratégias de recuperação paralela; a instituição de um espaço de trocas além do Seminário (e a ampliação do mesmo de dois para três dias) para facilitar a avaliação contínua dos processos; a utilização de modalidades educacionais alternativas (online) ; atividades de estágio; carga horária.

Os estudantes também tiveram espaço para expor suas ideias, experiências e preocupações. Um dos pontos principais da fala  dos representantes estudantis foi a questão da carga horária dos cursos, o tempo disponível para atividades escolares e complementares e a sobrecarga percebida pelos discentes nesse contexto — principalmente após a pandemia, com a implementação da recuperação paralela. Eles também abordaram questões como o equilíbrio entre o ensino técnico e as demais matérias, a facilitação de carga horária para atividades de Pesquisa e Extensão, a falta de aulas práticas em alguns cursos e a consequente desmotivação de alguns estudantes e sobre as preocupações sobre os processos educacionais do IFC com um todo no período pós-pandêmico, entre outros assuntos. 

Todas as discussões deste segundo dia de atividades do seminário estão disponíveis na gravação da transmissão do evento pelo canal do Campus Sombrio no YouTube

Após um resumo das atividades do dia e do pré-agendamento da próxima edição do evento para o Campus São Bento do Sul, o V Seminário da Educação Profissional Técnica Integrada ao Ensino Médio foi encerrado.

Texto: Cecom/Reitoria/Thomás Müller
Imagens: Proen